Intoxicações exógenas em pediatria no ano de 2019: o que os últimos dados nos mostram?

Abstract

Introdução: Intoxicações exógenas são de extrema importância em pediatria por se tratar de um evento recorrente nesta faixa etária e que requer boas medidas preventivas e tratamento eficiente a fim de se evitar agravos e sequelas irreversíveis. Objetivos: Estabelecer o perfil de intoxicações exógenas na faixa etária de 0 a 14 anos em 2019, correlacionando com dados da literatura e traçando soluções para evitar acidentes. Métodos: Estudo epidemiológico descritivo, retrospectivo e transversal. Foi feita uma análise dos dados contidos no TABNET, sistema de informações de saúde do SUS, sobre intoxicações exógenas em pediatria no Distrito Federal no ano de 2019. Os dados foram dispostos em planilhas no Excel 2016 e em paralelo comparados aos dados obtidos em estudos semelhantes de demais literaturas, com os descritores “intoxicações exógenas”, “infância” e “Distrito Federal”. As variáveis analisadas foram mês de primeiro(s) sintoma(s), faixa etária, sexo, agente tóxico, circunstância e desfecho. Resultados: O gênero mais acometido foi o feminino (57,68%) sendo a principal faixa etária 1-4 anos (54,34%), seguida de 10-14 anos (24,34%). Os medicamentos foram os agentes tóxicos envolvidos em mais da metade dos casos (52,02%), seguido de produtos de uso domiciliar (15,60%). A principal circunstância foi acidental (65,94%), predominando em todas as faixas-etárias, exceto dos 10-14 anos com destaque para as tentativas de suicídio, que representaram 20,86% do total de casos. O segundo semestre de 2019 contabilizou 56,81% dos eventos de intoxicação, sendo os meses de outubro, novembro e dezembro (4o trimestre) os de maior ocorrência. Quanto ao desfecho, 55,94% dos pacientes evoluíram com cura sem sequelas. Discussão: A identificação e notificação de pacientes pediátricos com intoxicações exógenas se faz importante por ser frequente nessa fase da vida e seu maior risco se dá em vista da farmacocinética e farmacodinâmica nesse grupo serem diferentes das habituais. A faixa etária de 1 a 4 anos foi a mais acometida, por circunstância predominantemente acidental, o que pode ser explicado pelo fato de ser uma época de desenvolvimento, em que o conhecimento de mundo se dá pela fase oral, na qual a criança coloca objetos na boca. Outra faixa etária muito acometida é a de 10 a 14 anos, em grande parte por tentativas de suicídio, sendo mais praticada pelo gênero feminino. Os medicamentos configuram a principal causa de intoxicações, provavelmente pelo fácil acesso. Além disso, é importante analisar os erros de administração e a origem destes que podem ser equívocos de prescrição, de dose ou até automedicação por parte dos pais. Também é importante estar atento se a intoxicação exógena foi realmente acidental ou se há maus-tratos ou síndrome de Munchausen por procuração. Conclusão: O perfil dos pacientes do presente estudo corroborou com pesquisas anteriores semelhantes. É necessário maior controle e notificação dos dados, bem como melhor armazenamento de substâncias tóxicas e maior vigilância de rótulos de embalagens a fim de promover maior segurança no manuseio dessas substâncias. O atendimento médico rápido também é fundamental para o desfecho positivo do caso.