Características clínicas da síndrome inflamatória multissistêmica em crianças associada à COVID-19.

Abstract

Crianças e adolescentes infectados com SARS-Cov2 são predominantemente assintomáticos ou têm sintomas leves em comparação com a doença coronavírus mais grave descrita em adultos. No entanto, um fenótipo de doença grave foi relatado pela primeira vez em maio de 2020 em Londres, com evidências de um estado hiperinflamatório multissistêmico semelhante à síndrome do choque tóxico e doença de Kawasaki, denominado de Síndrome Inflamatória Multissistêmica em crianças associado à covid-19 (MIS-C). Embora seja uma condição rara, a MIS-C é uma preocupação significativa devido frequência das manifestações cardíacas, sendo elas determinantes primárias da gravidade da doença. Tratou-se de um estudo de revisão integrativa que teve como objetivo reunir artigos indexados nas bases de dados PubMed e SciELO, UpToDate e Google Scholar, que abordassem a patogênese e as manifestações gerais da covid-19 na criança, as características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais, bem como complicações e sequelas cardiovasculares relacionados a MIS-C em crianças e adolescentes de 0 a 20 anos, correlacionando-as com a doença de Kawasaki. Os achados mais observados foram febre persistente, sendo este um critério chave na definição de MIS-C, alta frequência de sintomas gastrointestinais e erupções cutâneas. Disfunção cardiovascular foi uma característica clínica marcante em todos os trabalhos com aumento de biomarcadores inflamatórios, comumente resultando em choque e anormalidades ecocardiográficas como aneurismas das artérias coronárias. É uma condição de maior gravidade, com maior número de casos necessitando de cuidados intensivos, medicamentos vasopressores e inotrópicos, ventilação mecânica invasiva, não por dificuldade respiratória, mas por disfunção cardíaca. O reconhecimento dessa condição em crianças se faz necessário principalmente pelo impacto social que ela pode vir a causar. Até agora, o risco de doença grave resultante da COVID-19 em crianças era considerado insignificante. Embora o risco ainda seja baixo, e a taxa de mortalidade pequena, há implicações para os recursos de saúde como a necessidade de vagas na Unidades de Terapia Intensiva pediátrica e a necessidade de profissionais que saiba reconhecer a doença e manejar as possíveis complicações da MIS-C.